Terno de Linha – São Paulo 2005: O ano perfeito
Os últimos anos eram de crise, dramas, eliminações para times de pouca expressão e constantes derrotas para os rivais. Poderíamos estar até falando de tempos recentes, mas o torcedor são-paulino pôde enfim comemorar dignamente no ano de 2005. Na semana em que o Tricolor garantiu presença na final do Paulistão após um hiato de 16 anos – a última final no certame estadual foi contra o próprio Corinthians em 2003 – lembramos os três títulos conquistados em 2005, com um time difícil de se enfrentar jogando em casa, e cascudo quando jogava fora, que fez ressurgir o time do Morumbi no cenário do futebol. Rogério Ceni foi o artilheiro do ano, começando à escrever seu nome como maior ídolo do clube – em 2006, tornaria-se o maior goleiro-artilheiro da história, superando o paraguaio Chilavert. À frente dele em campo, Lugano exercia o verdadeiro papel de “paredão”, enquanto Mineiro e Josué controlavam o meio de campo. Danilo virou “Zidanilo” e Cicinho viveu o melhor ano de sua carreira. Na frente, Luizão e Amoroso jogavam de Terno. Quase 15 anos depois, os feitos podem servir de inspiração na cabeça do torcedor depois do último domingo. A espinha daquele time começou a ser montada ainda em 2004, sob a batuta do atual treinador Cuca. O São Paulo voltava a competir então na Copa Libertadores, campeonato que não disputava desde a final perdida para o Vélez em 1994. Montou um elenco à altura na época: contrataram Danilo, Grafite, Fabão, destaques do Goiás que fez boa campanha no ano anterior, e chegaram Cicinho e Júnior para as laterais. O time seria eliminado de maneira trágica na semifinal, pelo surpreendente Once Caldas, da Colômbia, posteriormente campeão. Mais reforços da base campeã chegaram em 2005: a dupla Josué e Mineiro, o experiente atacante Luizão, além do técnico Emerson Leão. No primeiro Campeonato Paulista disputado por pontos corridos, o Tricolor faz a melhor campanha e ganha o título de maneira antecipada, num empate contra o Santos, sendo esta a última conquista do time no torneio estadual. O São Paulo logo inicia o ano da melhor maneira possível para o objetivo principal, a tradicional Libertadores. Não foi um início de ano perfeito, logicamente. O melhor jogador de futsal do mundo em 2004, Falcão, arriscou sua carreira no campo neste time do São Paulo. Foram 4 meses, poucos jogos, raros minutos e uma relação conturbada com Leão. O próprio técnico assinou contrato com um clube japonês durante a fase de grupos do torneio sul-americano e o time foi dirigido na Argentina, contra o Quilmes, por Milton Cruz, o eterno salvador do tricolor nestes momentos. Paulo Autuori, campeão da Libertadores com o Cruzeiro em 97, assumiu o plantel, e na sua estreia, pelo Brasileirão, 5 a 1 no clássico contra o Corinthians “galáctico” de Daniel Passarela (que caiu após a derrota). Nas oitavas de final da Libertadores, o São Paulo passa por outro rival, desta vez o Palmeiras, com boas atuações do carrasco alviverde Cicinho. O gol antológico do lateral-direito no primeiro jogo sela a ida do Tricolor às quartas, onde encarou o mexicano Tigres. Na partida de ida, Rogério Ceni quase entra para a história com um hat-trick em pleno Morumbi, não tivesse desperdiçado um pênalti quando já estava 4x0 o placar. Já no México, na partida de volta, 2 a 1 para os donos da casa, impondo a única derrota do São Paulo na competição. O time iria ainda eliminar o River Plate na semifinal, com duas vitórias, e destaque para Amoroso, contratado às vésperas para suprir a ausência do lesionado Grafite. Na primeira final da Copa Libertadores entre dois clubes do mesmo país, o tricolor goleou o Atlético Paranaense no segundo jogo, após 1 a 1 no Beira-Rio – o time comandado por Antônio Lopes não pôde mandar seu jogo na Arena da Baixada, por não suportar o público mínimo para uma final (40 mil pessoas). Com 71 mil pessoas no Morumbi, o São Paulo era o primeiro brasileiro tricampeão continental após um 4x0 em campo. Assegurava assim a classificação para o Mundial, a ser disputado no Japão no final do ano. O Campeonato Brasileiro daquele ano, que ficou marcado pelo escândalo da “Máfia do Apito”, então serviu para preparar o time, terminando a competição em 11º lugar, com poucos bons resultados – a destacar a vitória por 6x1 diante do Flamengo, no Rio de Janeiro. Alguns torcedores ainda lembram da vitória anulada diante do Corinthians, por 3x2, com dois gols de Amoroso, que posteriormente fora remarcada, resultando num empate em um a um. O Tricolor viajava ao Japão com um time bem formado taticamente e prometendo dar trabalho ao grande favorito ao título, o campeão europeu Liverpool. Os brasileiros chegaram a passar sufoco no primeiro jogo, diante do Al-Ittihad: vitória por 3x2 com dois gols de Amoroso e um de Rogério Ceni e a classificação para uma final de Mundial após 12 anos. Era a hora do jogo do ano, a decisão daquele ano histórico. Logo aos 26 minutos de jogo, Aloísio – que havia marcado um gol pelo Atlético-PR na final da Libertadores contra o próprio São Paulo e, tal como Amoroso às vésperas da semifinal diante do River, fora contratado pouco tempo antes do Mundial – tocou para Mineiro aparecer no meio da zaga dos Reds e marcar. 1 a 0. Os ingleses pressionaram muito após o gol, tentando quem sabe repetir o Milagre de Istambul, mas a noite milagrosa era do goleiro Rogério Ceni. Foram inúmeros chutes a gol, escanteios e até mesmo três gols bem anulados pela arbitragem. O Tricolor consagrava-se tricampeão mundial e era o final de ano perfeito para o torcedor são-paulino. Artilheiro do time no ano com 21 gols, Rogério Ceni ainda coroaria o melhor ano de sua carreira com o prêmio de melhor jogador do Mundial. Era uma temporada de gols e defesas que ficariam na memória de todos os torcedores. Com algumas perdas no elenco para 2006, o clube contrata Muricy Ramalho para comandar a equipe, que confirmaria seu protagonismo do futebol brasileiro e continental nos anos seguintes: perderia a final da Libertadores 2006 para o Internacional de Porto Alegre, mas conquistaria de forma consecutiva os Campeonatos Brasileiros de 2006, 2007 e 2008. Sacramentaria nestes anos o “esquema” 6-3-3: referência aos títulos Brasileiros, da Libertadores e Mundiais, mesmo tendo a base da tríplice coroa de 2005 se desmanchando aos poucos. Os anos de glória do time em campo foram um verdadeiro casamento com o torcedor são-paulino e fizeram idolatrar o novo/velho herói Rogério Ceni. Mais de uma década depois, os números 6-3-3 ainda perduram na sala de troféus tricolor, estagnados, e relembram as façanhas daquele time classudo que permitiu discutir se foi de fato o melhor São Paulo de todos os tempos. 🏆 Títulos conquistados: Campeão Paulista de 05, Campeão da Copa Libertadores de 05 e Campeão Mundial de 05. 👕 Time base: Rogério Ceni, Fabão, Lugano e Edcarlos (Alex); Cicinho, Mineiro, Josué, Danilo e Júnior; Luizão (Diego Tardelli) e Amoroso (Grafite). 👤 Principais classudos: Rogério Ceni, Mineiro, Danilo e Amoroso. 📺 São Paulo 4x0 Atlético/PR, pela final da Copa Libertadores de 05 e São Paulo 1x0 Liverpool, pela final do Mundial de 05. ⚽ Mineiro, aos 26’ do primeiro tempo contra o Liverpool, após lançamento preciso de Aloísio, aparece livre para marcar o único gol do jogo. 📷 Arquivo SPFC/Divulgação.