The Rock
O futebol da década de 90 apresentou atacantes talentosos, que aliavam velocidade, chutes certeiros e dribles desconcertantes, e ao mesmo tempo, zagueiros de igual talento, que em grande maioria se destacavam principalmente pela força física e imponência. Era comum esses zagueiros quebrarem a cabeça, se perguntando como parar estes atacantes, já que parte desses entravam na pequena área em passes de mágica, como peixes ensaboados.
Uma descontraída resenha entre técnico e jogadores franceses, às vésperas da final da Copa do Mundo 1998 ilustra tal situação. No clássico vídeo, especulam sobre Ronaldo, elogiado e temido principalmente por Lilian Thuram e Marcel Desailly. Mas convenhamos: o classudo de hoje, ciente das suas qualidades - por mais que o Fenômeno assustasse - não baixaria a guarda, como sempre fez. O resultado já sabemos.
Nascido em Acra, capital de Gana, e batizado como Odenke Abbey, veio a se chamar Marcel Desailly ao receber o nome do pai adotivo, um diplomata francês que casou-se com sua mãe e os levou para Nantes, cidade francesa. Com boa formação escolar e desportiva, não tardou a se descobrir no futebol, ingressando nas categorias de base do Nantes.
Ingressou na equipe principal em 1986 aos 18 anos, demonstrando que não seria um jogador qualquer, também sendo chamado para as seleções inferiores da França. Sendo o Nantes considerado como um time mediano na Ligue 1, certo que não tardaria a ser contratado por um time de maior expressão. Após 8 anos na equipe o qual revelou, foi para o Olympique de Marseille, considerado na época como a potência da França. Desailly demorou a conquistar seu espaço e a titularidade. Demonstrando ao que veio, “The Rock” teve mais chances, apresentou suas características e um futebol de grande nível, acabando com a discordância entre superiores do clube e comissão técnica, quanto à sua contratação.
Jogando ao lado de classudos como Fabian Barthéz, Rudi Voller, Didier Deschamps e Abedi Pelé, Desailly foi peça importante num sistema defensivo, essencial para a conquista da Liga dos Campeões de 1993 pelo Olympique, sendo a primeira e até hoje a única equipe francesa a conquistar a competição.
Imersa a escândalos de manipulação de resultados, sendo punida e rebaixada, a equipe de Marselha perde o seu principal defensor para o Milan, que o aguardava sob o comando de Fábio Capello e jogadores como Franco Baresi, Costacurta, Albertini e Paolo Maldini, com quem formaria um impecável e equilibrado sistema defensivo. Desailly se adequou ao time e seguiu com carreira vitoriosa, já considerado como um dos melhores zagueiros da Europa.
Os títulos obviamente vieram como resultado, ajudando a equipe de Milão a conquistar dois campeonatos italianos e uma Liga dos Campeões, a segunda da sua carreira. Vale ressaltar que a final fora contra o Barcelona de Johan Cruyff, onde Stoichkov e tampouco Romário foram páreos para a Desailly e a defesa rossoneri. De lambuja, anotou o seu gol na goleada de 4 a 0.
A regularidade, o bom futebol e as conquistas lhe deram vaga na Seleção Francesa, que vinha de um longo período sem títulos e passando por reformulações. Nos anos seguintes, The Rock seria titular inquestionável em todas as conquistas dos Les Bleus, com destaque à inédita Copa do Mundo em 1998, na própria casa, onde mesmo expulso aos 23 do segundo tempo na final e temendo ser responsável por uma eventual derrota, compôs uma sólida defesa durante o Mundial com Thuram, Lizarazu e Deschamps.
Conquistando ainda uma Eurocopa e duas Copas das Confederações, erguendo a taça da conquista de 2001, despediu-se dos Bleus com 116 partidas disputadas, a terceira maior marca da seleção, abaixo apenas de Lilian Thuram e Thierry Henry.
Após a conquista do Mundial em 1998, The Rock se despede do Milan com seu nome no Hall da Fama rossoneri e transfere-se para o Chelsea, que ainda não dispunha dos recursos que dispõe atualmente, mas seguia uma linha de crescimento, onde já era visível que a equipe de Stamford Bridge elevaria de patamar em alguns anos. Michel contratado como estrela, peça chave e líder da defesa, tornou-se capitão, escrevendo seu nome na também na história do Chelsea e transferindo seu posto tempos depois à John Terry. Seguiu para o Oriente Médio e ainda defendeu o Qatar SC e o Al-Gharafa, pendurando o terno e as chuteiras em 2006.
Por que jogava de terno?
Zagueiro destro, o camisa 8 atuou algumas vezes como volante e primeiro homem no meio de campo. Considerado um dos maiores defensores do futebol francês e europeu, foi peça fundamental nas conquistas das equipes em que jogou e pela Seleção Francesa. Clássico zagueiro dos anos 90, onde a força física era determinante para o posição, Desailly se destacava devido ao seu vigor, porte físico e classe dentro de campo; cumpria perfeitamente tal perfil, inflexível e duro na queda como uma rocha, como muitos jogadores o classificavam.
Aliado a isso, era um marcador implacável e exímio apoiador, preciso nos passes, nas saídas e roubadas de bola, além do bom cabeceio, o que lhe dava vantagem na maioria das disputas aéreas. Com boas arrancadas e dinâmica movimentação, era habituado a se deslocar da posição de origem, partindo para o meio campo e criando jogadas ou até mesmo indo ao ataque. Um defensor versátil que certamente escreveu sua história de forma magistral no futebol mundial.
👤 Marcel Édouard Georges Desailly
👶 07 de setembro de 1968 (50 anos)
🏠 Ganês/Francês
👕 Nantes, Olympique de Marseille, Milan, Chelsea, Al-Gharafa, Catar SC e Seleção Francesa
🏆 Liga dos Campeões da UEFA 92/93 (Olympique de Marseille); Liga dos Campeões da UEFA 93/94, Campeonato Italiano 93/94, 95/96, Super Copa Europeia 93/94 (Milan AC); Copa da Inglaterra 99/00 (Chelsea); Campeonato Qatariano 04/05 (Al-Gharafa); Copa do Mundo 98, Eurocopa 00, Copa das Confederações 01 e 03 (Seleção Francesa)
👑 Hall da Fama Milan AC
Classômetro: 👔👔👔👔👔👔👔 (7,8)
📷 Getty Images/Mathew Ashton