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El Negro Jefe


Obdulio Varela Uruguai

"Se você olha friamente, como jogador, Obdulio não foi um dos melhores, nem um dos piores. Mas era como esses atores que quando entram em cena, têm presença. Estava e quando estava, o campo era distinto. E isso foi decisivo no Maracanã, para que o Uruguai ganhasse contra essa besta de 200 mil cabeças que rugia. Ele levou adiante a luta, e depois teve a dignidade e a nobreza de escapar da comemoração dos uruguaios no hotel, para ir beber com os vencidos.”

O escritor uruguaio Eduardo Galeano, assim descreve um dos maiores jogadores de todos os tempos da Celeste Olímpica e Peñarol, aquele pediu aos companheiros mais raça, mais alma e principalmente que não olhassem para as arquibancadas, tomando a bola para si e esfriando o jogo, após o gol de Friaça; aquele que fez seus brados ecoarem em meio a uma multidão emudecida após o gol de Ghiggia, conduzindo o Uruguai ao segundo título mundial, em 1950. Culpar Barbosa pelo fracasso brasileiro é leviano, já que do outro lado, havia o capitão Obdulio Varela, a besta fera que amarrava suas chuteiras com as veias e não com cadarços, como dissera Nelson Rodrigues, testemunha ocular do Maracanazo.

De origem pobre e humilde, Obdulio trabalhava desde criança e já demonstrava, não somente capacidade e talento em clubes locais e torneios de bairro, mas também a consciência sobre as condições sociais e o racismo estrutural que o cercava. Nessa época, Obdulio vivia num casebre que anos depois serviria de morada para Luizito Suárez. Vendo que o futebol poderia lhe dar melhores condições de vida, inicia a carreira em 1936 no modesto Deportivo Juventud, tomando o posto de capitão com apenas 18 anos.

Em 1938 o Montevideo Wanderers compra seu passe e Varela enfrenta o Peñarol pela primeira vez no Estádio Centenário, vencendo por 2 a 1. Após seis temporadas jogando no time considerado na época como a terceira força, transfere-se para o Peñarol em 1943, veste o terno aurinegro e torna-se capitão e ídolo carbonero, conquistando seis títulos nacionais, sendo eleito o melhor jogador uruguaio cinco vezes, em seis edições. Jogou pela última vez pelo Peñarol num amistoso contra o América-RJ, no Rio de Janeiro.

Debutou na Seleção Uruguaia na Copa América de 1939 realizada no Peru, porém não conseguiu levar a Celeste Olímpica ao título, perdendo na final para a seleção anfitriã. Entretanto, sua primeira conquista com a seleção não tardaria, vindo a ser campeão e eleito o melhor jogador da Copa América de 1942, onde as sete seleções participantes jogaram entre si em turno único, vencendo o Uruguai com doze pontos.

O ápice na seleção veio com a conquista da Copa do Mundo 1950, escrevendo seu nome na história como um dos capitães mais imponentes e respeitados de todas as Copas do Mundo. Junto à Schiaffino e Ghiggia, foi protagonista do Maracanazo, onde seu posicionamento, lançamentos e frieza psicológica foram fundamentais para a conquista do segundo título mundial do Uruguai.

O classudo dispensaria o terno, da mesma forma que se recusou a usar camisas com patrocínio, a ganhar mais que seus companheiros por ser capitão, e a aceitar subornos e presentes. Líder sindical, El Negro Jefe encabeçou uma greve pelo reconhecimento do sindicato e contra os baixos salários dos jogadores, além da lei do passe, que mantinha os mesmos, atados aos clubes, sem poder de negociação. Se Godín e companhia apoiaram uma paralisação do campeonato uruguaio em 2017, por melhor distribuição de direitos de imagem, tenham certeza que o ato de Obdulio em 1948 serviu como inspiração e referência para tal.

Ainda que tenha conquistado títulos e reconhecimento mundial, faleceu pobre, sem usufruir de boas condições que o futebol poderia ter lhe propiciado. Em entrevista dada a certa emissora, Diego Lugano resumiu em poucas palavras a importância de Obdulio para o futebol e para o povo uruguaio. Ao ser questionado se brincava de ser Obdulio Varela na infância, o zagueiro apenas disse “que não se poderia brincar de ser deus”.

Por que jogava de terno?

Volante central destro, aguerrido e imortalizado com a camisa 5, El Negro Jefe possuía forte poder de marcação e senso de localização, sendo um exímio distribuidor de bolas e dono de potentes chutes à longa distância. Não era considerado um jogador excepcional, refinado, mas compensava pela liderança, forte personalidade dentro de campo e pelo controle psicológico que possuía e exercia como capitão, orientando os demais companheiros de time a não temerem o adversário, qualquer que fosse. Características que também demonstraria fora das quatro linhas, posicionando-se politicamente e socialmente diante de desigualdade sociais.

👤 Obdulio Jacinto Muiños Varela

👶 20 de setembro de 1917, faleceu em 2 de agosto de 1996 (78 anos).

🏠 Uruguaio

👕 Deportivo Juventud, Montevideo Wanderers, Peñarol e Seleção Uruguaia

🏆Campeonato Uruguaio 44, 45, 49, 51, 53 e 54 (Peñarol); Copa América 42, Copa do Mundo FIFA 50 (Seleção Uruguaia).

👑 Ordem de Mérito da FIFA 94.

Classômetro: 👔👔👔👔👔👔👔👔 (8,3)

📷 Popperfoto/Getty Images

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