Atlético 1977-1983: A maravilhosa geração quase protagonista
No dia 23 de janeiro deste ano a página ENJE (Escola Nicola de Jornalismo Esportivo) – Sala de Aula inaugurou a serie “Debate Democrático” com a pergunta: “O Galo deixou de ser protagonista no futebol?”. Para alguns o Atlético nunca chegou a ser protagonista no futebol brasileiro, apenas teve bons momentos na atual década, ao vencer a Libertadores-13 e a Copa do Brasil-14.
Para aprofundar um pouco a discussão, este Terno de Linha vai retroceder aos anos 1970 e início da década seguinte, para entender como o Atlético se posicionava no cenário futebolístico mineiro e nacional.
Após a inauguração do Mineirão, em 1965, o Atlético viu a consolidação do Cruzeiro, somente conquistando o campeonato local em 1970, na sequência de um pentacampeonato do rival. No ano seguinte não conseguiu repetir o feito, mas sagrou-se campeão brasileiro sob o comando de Telê Santana. O brilho foi efêmero, sendo seguido pelo fracasso na Libertadores 72 (4 empates e 2 derrotas na fase de grupos) e, nos quatro anos seguintes, o Galo sofreu novamente com a supremacia cruzeirense, tetracampeã mineira 72-75, para voltar ao título apenas em 76.
Neste período, entretanto, as equipes de base começaram a se impor, conquistando o bicampeonato da Copa SP de Futebol Junior (75-76), 4 títulos nas categorias juvenil e infanto-juvenil e 3 na categoria infantil, revelando futuros craques como João Leite, Alves, Heleno, Paulo Isidoro, Toninho Cerezo e Reinaldo.
Com a equipe renovada, o título mineiro de 76 é conquistado de forma invicta, com apenas 5 empates em 31 jogos, fechando o ano com campanha muito boa no campeonato brasileiro, eliminado pelo Internacional em partida única da fase semifinal. O entusiasmo permanece durante o campeonato mineiro do ano seguinte, a despeito da forte concorrência do Cruzeiro, principalmente quando o Galo derrota o rival na primeira partida da decisão. Mas a vantagem é perdida na segunda partida e o título escapa no jogo desempate.
No campeonato brasileiro, iniciado em outubro de 77, a campanha do Galo reacendeu as esperanças da torcida. Foram 12 vitórias e apenas 1 empate nas duas primeiras fases, com a impressionante marca de 2,69 gols por partida. A terceira fase foi disputada no ano seguinte, com ótimo desempenho (4 vitórias, 1 empate e 10 gols marcados).
Na semifinal o Atlético eliminou o Londrina e Reinaldo, com 3 gols na primeira semifinal, atingiu a marca de 28 gols em 17 partidas. Suspenso, o artilheiro desfalcou a equipe na segunda partida da semifinal e na final. E aí, quando todos esperavam a consagração, o empate (no tempo normal e na prorrogação) e a conquista do título pelo São Paulo (3x2 nos pênaltis). Com 3 cobranças por cima da meta, o Atlético perdia a oportunidade do 2º título nacional, estabelecendo a situação inusitada de vice-campeão invicto, embora o Botafogo (5º colocado na classificação geral) também tenha terminado o campeonato sem sofrer derrota.
Com 4 vitórias e 2 empates, o Galo classifica-se na fase de grupos da Libertadores, mas é eliminado nas semifinais (3 derrotas em 4 jogos), jogando por terra a possibilidade de seu primeiro título continental. No âmbito doméstico recupera a hegemonia, iniciando um período de 6 títulos mineiros consecutivos.
O ressurgimento no nível nacional ameaçou acontecer no campeonato brasileiro de 80, quando o Galo terminou a terceira fase com 13 vitórias, 3 empates e 1 derrota, eliminando o Internacional (empate em casa e vitória no Beira Rio) e credenciando-se a disputar a final com o Flamengo que, embora com campanha inferior, obteve vantagem para a decisão, por ter feito vencido o Coritiba nas duas partidas da fase semifinal.
Os resultados de vitória do Galo (1x0, no Mineirão) e vitória do Flamengo (3x2, no Maracanã) – com direito a arbitragem polêmica de José de Assis Aragão e gol decisivo de Nunes – deram o título ao Flamengo, em nova oportunidade perdida de bicampeonato nacional do Atlético.
A acirrada rivalidade entre Atlético e Flamengo chegou ao auge na Libertadores-81, quando as equipes fizeram um jogo extra no Estádio Serra Dourada, depois de empatarem em pontos ganhos na fase de grupos. A partida foi encerrada ainda no primeiro tempo, depois que José Roberto Wright expulsou João Leite, ficando o Atlético com apenas seis jogadores (Reinaldo, Éder, Chicão e Palhinha, além do técnico Carlos Alberto Silva, já haviam recebido cartão vermelho).
Aliás existe um desencontro de informações nesse episódio. Várias fontes apontam que Osmar Guarnelli teria sido expulso, mas Wright, em entrevista concedida em 2013 ao Globo Esporte, afirma que expulsou João Leite.
Em 1981 e no ano seguinte, embora conquistando o título mineiro, o Atlético voltou a fracassar no cenário nacional, terminando o campeonato brasileiro em 14º e 19º lugar, respectivamente, entre 44 equipes participantes.
O último alento do período veio em 83, com a 3ª posição, eliminado pelo Santos na semifinal, já com elenco bastante modificado e sem a participação de novas revelações das categorias de base.
O período, portanto, apresentou várias oportunidades de alcançar efetivo protagonismo no cenário futebolístico nacional, e eventualmente até internacional, frustrado por inúmeros fatores, entre os quais a concorrência do vitorioso do Flamengo, esse sim, despontando como protagonista com 3 títulos brasileiros, 1 da libertadores e 1 mundial de clubes.
🏆 Hexacampeão mineiro (78-83), Vice-campeão brasileiro (77 e 80)
👕 Time base (1977): João Leite, Alves, Márcio, Vantuir e Valdemir; Cerezo, Ângelo e Marcelo Oliveira; Serginho, Reinaldo e Ziza (com participações frequentes de Danival, Ângelo, Heleno e Paulo Isidoro)
👕 Time base (1980): João Leite; Orlando, Osmar Guarnelli, Luizinho e Jorge Valença; Chicão, Toninho Cerezo e Palhinha; Pedrinho Gaúcho, Reinaldo e Éder Aleixo (com participações frequentes de Alves, Silvestre, Ângelo e Fernando Roberto)
👤 Principais classudos: João Leite, Luizinho, Cerezo, Marcelo Oliveira, Paulo Isidoro, Reinaldo e Éder Aleixo
📺 Atlético 0x0 São Paulo, final do campeonato brasileiro de 1977 e Atlético 1x0 Flamengo, primeira final do campeonato brasileiro de 1980.
⚽ Aos 8' do 1º tempo Cerezo avança pela esquerda e toca para Reinaldo. Ele gira e bate para o gol, a bola resvala no defensor e engana Raul / 21" do 2º tempo Éder Aleixo cruza da esquerda e Reinaldo, mesmo sentindo um estiramento, toca de direita para empatar o jogo.
📷 Conteúdo/Estadão e Eurico Dantas/Agência O Globo