Futebol & Música (1ª parte)
Nos estádios de futebol, a cada dia é maior a presença da música, com cantos das torcidas para incentivar suas equipes, ou para provocar os adversários. Canções como “You’ll never walk alone” e “Brasil, decime qué se siente”, entre outras, são entoadas ou adaptadas por diferentes torcedores, tornando as partidas ainda mais interessantes.
Mas esta nova série do JdT não vai tratar desse tipo de ligação entre o futebol e a música, mas sim de várias ocasiões em que o esporte serviu de inspiração para a composição de músicas. Inaugurando a série, vamos relacionar e comentar algumas que foram compostas em homenagem à seleção brasileira ao longo dos tempos.
Em 1919 o Brasil sediou pela primeira vez uma competição internacional, recebendo as delegações da Argentina, Chile e Uruguai para a disputa do Campeonato Sul-Americano de Futebol. As partidas aconteceram no Estádio das Laranjeiras, construído especialmente para a competição.
Tendo vencido Chile e Argentina, Brasil e Uruguai chegaram à última partida em igualdade de condições. Mas o jogo terminou empatado, forçando a realização de um confronto desempate, que não teve gols, tanto no tempo normal quanto na prorrogação. A solução encontrada foi disputar um segundo tempo extra, mesmo com os jogadores completamente extenuados.
Com um gol de Friedenreich, aos 3 minutos da etapa inicial da segunda prorrogação, o Brasil tornou-se campeão continental pela primeira vez, o que serviu de inspiração a Pixinguinha e Benedito Lacerda para a composição do chorinho “Um a Zero”, considerada a primeira música brasileira dedicada ao futebol. Muito tempo depois, a música ganhou letra, escrita por Nélson Ângelo, integrante do famoso Clube da Esquina.
Terno da Seleção Brasileira no Campeonato Sul-Americano de 1919 (Foto: Arquivo Globoesporte)
Com a criação da Copa do Mundo em 1930, o Campeonato Sul-Americano perdeu um pouco de sua importância e a seleção brasileira passou a perseguir o título mundial, alcançando o 2º lugar na derrota para o Uruguai, em 1950, no episódio conhecido como “Maracanazzo”. Foi a partir desse desastre futebolístico que, anos mais tarde, o escritor Nelson Rodrigues cunhou a expressão “complexo de vira-lata”
A forra veio em 1958, com a primeira conquista do Mundial, na vitória por 5 x2 sobre a anfitriã Suécia. Em homenagem ao título, Wagner Maugeri, Maugeri Sobrinho, Victor Dagô e Lauro Muller compuseram a música “A Taça do Mundo é Nossa”, retratando o ufanismo instaurado e sepultando, pelo menos no futebol, o sentimento de inferioridade citado pelo genial jornalista e escritor.
A taça do mundo é nossa Com brasileiro não há quem possa Êh eta esquadrão de ouro É bom no samba, é bom no couro
Bellini ergue a taça Jules Rimet na Suécia, em 1958 (Foto: Arquivo CBF)
Depois do bicampeonato no Chile em 1962 e do fracasso na Inglaterra quatro anos depois, o Brasil se preparava para a disputa no México, em plena ditadura civil-militar. E a oportunidade de faturar prestígio internacional para o regime foi aproveitada com a realização de um concurso realizado pela Rede Globo e patrocinado por anunciantes – segundo a pesquisadora Nara Damante – ou por uma cervejaria, de acordo com Ricardo Cravo Albin. A música vencedora foi “Pra frente Brasil”, atribuída ao radialista e compositor de jingles Miguel Gustavo. Entretanto, em entrevista concedida em 2002, o compositor e trombonista Raul de Souza reclamou para si a autoria da melodia, revelando que Miguel Gustavo teria sido autor somente da letra.
Divergências autorais à parte, a música superou a expectativa original de ser um jingle para a primeira transmissão ao vivo de uma Copa do Mundo para o Brasil, tornando-se símbolo da seleção canarinho.
De repente é aquela corrente pra frente Parece que todo o Brasil deu a mão Todos ligados na mesma emoção Tudo é um só coração Todos juntos vamos, pra frente Brasil Salve a seleção!
O capitão Carlos Alberto Torres e o Presidente Médice erguem a taça Jules Rimet (Foto: Agência O Globo)
Os insucessos nas Copas de 74 e 78 foram esquecidos na preparação para a edição seguinte, a ser disputada na Espanha. Sob o comando de Telê Santana, a seleção brasileira classificou-se no grupo 1 das eliminatórias sul-americanas, eliminando a Bolívia e a Venezuela com 4 vitórias, nas quais marcou 11 gols e sofreu apenas 2. O entusiasmo com a geração de Sócrates, Falcão, Cerezo, Júnior, Oscar e Zico rendeu a música “Povo Feliz”, mais conhecida por “Voa, Canarinho Voa”, composta por Memeco e Nonô do Jacarezinho, gravada pelo lateral esquerdo Júnior em um compacto simples, que tinha no labo B a música “Pagode da Seleção", composta pelo próprio jogador e por Alceu Maia.
Voa, canarinho voa Mostra pra esse povo que és um rei Voa, canarinho voa Mostra lá na França o que eu já sei
A música era utilizada como trilha sonora das reportagens sobre a seleção no Mundial da Espanha e o compacto da gravadora RCA-Victor vendeu mais de 700 mil cópias.
Seleção Brasileira na Copa de 1982 (Foto: Arquivo CBF)
Por que ouvir?
As músicas aqui relacionadas retratam épocas distintas, com resultados diferentes em termos de sucesso/fracasso do futebol brasileiro no cenário mundial, além de mostrarem a forte ligação entre duas paixões nacionais: o futebol e a música. A pouco conhecida “Pagode da Seleção” faz, inclusive, uma divertida descrição da participação “musical” dos integrantes da seleção que apresentou o futebol considerado por muitos como o mais bonito do mundo, embora tenha sucumbido diante do pragmatismo da seleção italiana, no episódio que ficou conhecido como a Tragédia de Sarriá”.
🎶 Um a zero
🎼 Pixinguinha e Benedito Lacerda
🎵🎵🎵🎵🎵🎵🎵🎵🎵 (9,0)
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🎶 A taça do mundo é nossa
🎼 Wagner Maugeri, Maugeri Sobrinho, Victor Dagô e Lauro Muller
🎵🎵🎵🎵🎵🎵🎵 (7,0)
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🎶 Pra frente Brasil (90 milhões em ação)
🎼 Miguel Gustavo e Raul de Souza
🎵🎵🎵🎵🎵 (5,0)
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🎶 Povo feliz (Voa, canarinho, voa) / Pagode da seleção
🎼 Memeco e Nonô do Jacarezinho / Alceu Maia e Júnior
🎵🎵🎵🎵 (4,0)
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