Terno de Linha - As últimas Glórias de um Glorioso: o Botafogo da década de 90
Atualmente a imagem não ajuda. O time do Botafogo passa por maus bocados, há tempos não conquista um título de expressão e sequer consegue bons resultados nas competições que atua: as últimas significativas foram as quartas de final da Libertadores e as semis da Copa do Brasil, ambas no ano passado. Há quem diga que o Botafogo foi um time que teve sua relevância na década de 60, misturando doses de rivalidade e certa ignorância. Bem verdade é que, depois da geração de Garrincha, Nilton Santos, Manga, Zagallo e Didi, o clube de General Severiano amargou absurdos 21 anos de jejum (sem conquistar sequer as clássicas Taça Guanabara ou mesmo a Taça Rio). De 68 a 89 o Botafogo bateu na trave em 71 no Campeonato Brasileiro e teve times de respeito nas décadas de 70 e 80, mas só. Já a década de 90 é sempre lembrada pela conquista do Campeonato Brasileiro de 95. Mas, mora ai o perigo de quem acha que foi só ai o único grande triunfo de um time com um terno pesado como o do Botafogo. Para entender melhor a década de 90 do Glorioso, é preciso entender a importância de um título conquistado ainda em 89, o Carioca vencido em cima do Flamengo, com o gol histórico de Maurício. Era o fim de um jejum ainda mais histórico. O clube, então, pode virar a década deixando para trás um estigma. E em 90 volta a conquistar o estadual e o vislumbre de glórias de outrora passa a permear o imaginário da torcida. Em 92, o Botafogo voltou a disputar um título de expressão nacional. A final do Brasileiro, disputada contra o Flamengo era, definitivamente, a marca de que o clube voltava ao holofotes do cenário principal do futebol. O título não veio. Mas, calma. Em 93 reveio uma espécie de renovação da equipe, que antes era liderada por Renato Gaúcho (mas que saiu pela porta dos fundos do clube por supostamente participar dos festejos do campeão Flamengo - tese já desmentida). Essa renovação não surtiu efeito de imediato com uma campanha discreta no Brasileiro e no Carioca. Mas havia uma certa Copa Conmebol. O Botafogo, comandado por Carlos Alberto Torres, tinha em seu escrete nomes como Willian Bacana (no gol), Perivaldo, Clei, Suélio e o craque Sinval. Certamente você jamais ouvira falar desses nomes antes de ler esse texto. Mas foram eles os responsáveis pelo primeiro título oficial que o Botafogo conquistou no continente, na final jogada contra o Peñarol. Já em 94, um grande marco acontece para o clube: o então presidente eleito Carlos Augusto Montenegro retoma a sede histórica de General Severiano, o que dá de volta a identidade do Botafogo perdida ao longo daqueles 21 anos. Montenegro também ficou responsável por remontar aquela equipe. O primeiro passo foi trazer um certo craque goiano, artilheiro do brasileiro de 89: Túlio Humberto. Sim, o Maravilha. Além de artilheiro, Túlio também era irreverente e carismático. Quando seus adversários disputavam o estadual de 95 com Romário (Flamengo), Renato Gaúcho (Fluminense) e Valdir (vasco), o Glorioso tinha Túlio, que desbancou os três na artilharia (do Carioca e do brasileirão), e entre um gol e outro, uma frase debochando dos rivais. Já em 95, Montenegro conseguiu trazer investimentos para o clube e montar uma equipe melhor para a disputa do Brasileiro daquele ano. Contava com o Túlio e trouxe ainda nomes como Donizete. No gol, Carlão era cotado para ser o titular, mas Wágner fizera partidas seguras quando acionado. A zaga tinha Wilson Gottardo e Gonçalves. No meio, a consistência de Sérgio Manuel garantia o ritmo do time e a solidez de Leandro Ávila a segurança pra defesa. Na frente, bola no Maravilha que ele matava. Para comandar a equipe, Montenegro trouxe de Portugal um então técnico brasileiro desconhecido por aqui. A falta de nomes mais conhecidos no elenco somados ao de Paulo Autuori renderam desconfianças de torcida e imprensa. Pra muitos, aquele time era um amontoados. Mas fato é que o Brasileiro de 95 mostrou que o Botafogo, assim como em 93, buscava na raça e na entrega o seu melhor. Com doses de carisma de Túlio, de qualidade de Sérgio Manuel e Gonçalves, de imprevisibilidade de Wágner o Botafogo se sagrou campeão nacional em cima do badalado Santos de Giovani. A final era o reencontro do Santos de Pelé e do Bota do Mané. A 10 do rei agora era ostentada pelo "messias". A 7 de Garrincha pelo Maravilha. Com polêmica no primeiro jogo que beneficiou o Santos e o Botafogo na segunda, o Glorioso levantava a taça de forma inédita e determinante: jamais há de se duvidar do Botafogo. Em 96 e agora com o elenco em voga, o time avançou até as oitavas da Libertadores (claro, com show de Túlio, que até gol de calcanhar fez). Mas aos poucos o time foi se esfarelando. Mesmo sem buscar por títulos ao longo daqueles anos, o Glorioso voltou a uma final em 99, na Copa do Brasil contra o Juventude. Mais de 100 mil pessoas no Maracanã para ver mais um título improvável. Mas dessa vez, para o adversário gaúcho. É fato que a década de 90 é vista de forma majestosa por muitos torcedores botafoguenses. E não é pra menos. É por causa dela que os supersticiosos alvinegros veem esperanças em time com Pimpão na Libertadores, por exemplo. E não é pra menos mesmo. Nunca há de se subestimar um terno tão de linho (e linha) como o do Botafogo de Futebol e Regatas. 🏆 Campeão Brasileiro de 95, Campeão da Copa Conmebol de 93 e Vice campeão do Brasileiro de 92 e da Copa do Brasil de 99 👕 Time base (95, campeão nacional):Wágner, Wilson Goiano, Wilson Gottardo, Gonçalves e André Silva (Iranildo), Leandro Ávila, Jamir, Beto e Seérgio Manuel, Donizete e Túlio Maravilha. 👤 Principais classudos: Wágner, Gonçalves, Sérgio Manuel, Donizete e Tulio Maravilha. 📺 Santos 1x1 Botafogo pela última partida da final do Campeonato Brasileiro de 95 ⚽ Túlio, aos 24' do segundo jogo daquela final 📷 Agência O Globo/Arquivo