Especial Copa do Mundo - Alemanha 1990: Quebrando barreiras
O alemão é um povo que transmite a sensação de ter pouco carisma e ser frio quando o assunto é sentimento, mas se existe um ano que eles guardam com carinho no coração, este ano é 1990. Ainda tentando recuperar-se das sequelas e destroços deixados pela Segunda Guerra Mundial, a Alemanha, no âmbito político, econômico e territorial, vivia um período que ficou conhecido na história como Guerra Fria. Já nos gramados, rivalizava com a Seleção da Holanda, naquele momento, atual campeã da Eurocopa e carrasco dos alemães no mundial de 78, e também com a Seleção Argentina, campeã em cima da própria Alemanha em 86. A Copa de 90, sediada pela Itália, ficou conhecida como a copa “do sono” ou “das defesas”. Foi marcada pela grande quantidade de empates e por ter a menor média de gols da história das Copas: 2,2 gols por jogo. Apenas uma seleção destoava das outras e provava o contrário. Com a não classificação da Alemanha Oriental para a Copa, Franz Beckenbauer liderava o terno germânico ocidental ao Tri Campeonato Mundial, e ao próprio título individual, igualar-se ao Mário Zagallo e ganhar a Copa do Mundo como jogador e técnico. É até óbvio demais dizer que a Alemanha Ocidental foi a Campeã Mundial naquela Copa. Assim como acaba sendo quase um pleonasmo Franz Beckenbauer ganhar a copa das defesas, mas foi exatamente isso o que aconteceu. A seleção mesclava juventude e experiência na medida certa, com Jürgen Kohler comandando a zaga, Berthold e Brehme voando nas laterais, Matthäus e Häßler comandando a meiuca e Völler e Klinsmann protagonizando o ataque mais fatal daquela copa. A Alemanha Ocidental fazia o simples de forma perfeita. Atacando em um 3-5-2 e defendendo no 5-3-2, os “Die Adler” se classificaram de forma invicta nas eliminatórias, com três vitórias e três empates, ficando atrás apenas da Laranja Mecânica na classificação final. Compondo o grupo D ao lado de Iugoslávia, Colômbia e dos estreantes Emirados Árabes Unidos, comandados por Carlos Alberto Parreira, os alemães não tiveram problemas para classificarem-se. Com as goleadas de 4 a 1 em cima da Iugoslávia e 5 a 1 nos EAU, tiraram o pé pra enfrentar a Colômbia empatando o jogo em 1 a 1. A primeira seleção das fases finais foi a temível Laranja Mecânica, composta por nomes como Gullit, Rijkaard e Van Basten, porém, com a vingança já engasgada na garganta, eliminou os holandeses com gols de Klinsmann e Brehme, na vitória por 2 a 1. Nas quartas, a adversária foi a forte seleção da Tchecoslováquia, eliminada com o gol do capitão Lothar Matthäus, logo na primeira etapa. Nas semis, enfrentaram a Inglaterra de Lineker e Gascoigne, em um dos jogos mais difíceis daquele mundial. Após o empate de 1 a 1 durante o tempo normal e a prorrogação, a disputa foi para os pênaltis, em que o sangue frio dos alemães foi essencial para vencer por 4 a 3. Eis então que o forte plantel da Alemanha Ocidental chegava a terceira final consecutiva, a segunda contra a Argentina de Maradona, e dessa vez, o vice não seria tolerado. Em uma das finais de Copa do Mundo mais violentas, os Argentinos tentaram de todo o jeito “catimbar” a partida, tendo dois jogadores expulsos. Com Maradona iniciando o declínio da sua carreira, e sofrendo com Buchwald no seu encalço, os alemães sofreram um pênalti aos 40 do segundo tempo e, dessa vez, o especialista Andreas Brehme não iria perdoar. A Alemanha Ocidental se igualava ao Brasil e à Itália, como Tri Campeã Mundial. A taça era o objeto de desejo de todas as seleções que disputaram aquele mundial, mas para a Alemanha, ela viria com a paz, a liberdade e a redenção. No mesmo ano de 1990, foi anunciada a reunificação do país, e se iniciou a demolição do famoso Muro de Berlim, que dividia a Alemanha e o mundo ao meio. Era o começo do fim e, a partir daquele ano, nunca mais dividiríamos a Alemanha em Ocidental ou Oriental, nem mesmo utilizaríamos os termos Tchecoslováquia ou União Soviética para definir nações. Em 1990 a Alemanha, de fato, quebrou barreiras. 🏆 Copa do Mundo 1990 👕 Time base: Bodo Illgner; Guido Buchwald, Klaus Augenthaler e Jürgen Kohler; Thomas Berthold (Stefan Reuter), Andreas Brehme, Lothar Matthäus, Thomas Häßler e Uwe Bein (Pierre Littbarski); Rudi Völler e Jürgen Klinsmann. 👤Os principais classudos: Andreas Brehme, Lothar Matthäus e Jürgen Klinsmann. 📺 Argentina 0x1 Alemanha Ocidental na final da Copa do Mundo de 1990. ⚽ Brehme, de pênalti, aos 40' do segundo tempo na final de 90. O único gol da partida na vitória por 1x0 sobre a Argentina.