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E se o Vasco tivesse sido campeão?


No nosso último texto, trouxemos a história do Vasco de 1923, campeão carioca do ano e que, no ano seguinte, se recusaria a tirar jogadores da equipe que seriam proibidos de jogar pela associação esportiva estadual da época. E o motivo era por serem negros e pobres. O Vasco deu um passo importante ao não aceitar que condições sociais e de raça fossem um impedimento para que os atletas atuassem em seus clubes. Nos dias de hoje, a maioria dos jogadores vem das camadas mais pobres da sociedade e grande parte é negra. É também nos dias de hoje que vemos o Clube de Regatas Vasco da Gama ter o seu histórico de lutas e conquistas sendo jogado no lixo. Coronéis que já deveriam ter sumido do futebol (e da sociedade) há muito tempo ainda mandam e desmandam no clube a bel-prazer, mesmo que para isso tenha que aplicar um golpe e desrespeitar a vontade de maioria da sua imensa torcida, insatisfeita com o que via ser feito no comando do clube. E é aí que entra a pergunta feita no início desse texto. E se o Vasco tivesse sido campeão brasileiro em 2017? Essa reação à pessoa de Eurico Miranda e seus correligionários teria sido a mesma se o Vasco tivesse conquistado títulos importantes nos últimos anos? Se desde sua primeira passagem pelo clube ele já mostrava sinais de que faria tudo para tirar vantagem do clube, por que o trouxeram de volta? Na busca por título, é o que se imagina. E se isso, de fato, tivesse acontecido esse episódio lamentável da escolha de um novo presidente teria tomado a mesma proporção? A crítica que fica aqui não vai apenas aos torcedores do Vasco, mas a de todas as torcidas. Em geral não estamos preocupados com a saúde das finanças do clube, e nem nos importamos se isso, no futuro, comprometer o planejamento do clube para a temporada. No fim das contas, só o que nos importa mesmo é: títulos. Esse episódio deveria nos fazer refletir sobre como somos egoístas e lenientes como torcedores (e cidadãos) e aceitamos falcatruas e bravatas desde que isso nos traga algum benefício. Se isso não fosse verdade, muitos dos políticos que colocamos no poder jamais seriam eleitos novamente. Mas é só a eleição começar que eles aparecem de novo na urna e se elegem. Pior do que isso são torcedores rivais que não conseguem deixar a paixão futebolística de lado e comemoram o que acontece pros lados da Colina. Quando, na verdade, deveríamos sentir vergonha de ver como somos vulneráveis àqueles que têm o poder na mão. As piadas, as ironias, isso faz parte. Mas torcer para que um clube da grandeza do Vasco, que lutou para fazer valer o direito da democracia que nos anos 20 ainda era tão fragilizada, passe por isso, nos remete a outra pergunta: E se fosse no seu clube? Aliás, quem garante que no seu clube não há dirigentes que agem da mesma forma que o "Coronel" Eurico, só que sem alarde e sem fumar charuto? Na eleição do Vasco, perdeu o Júlio Brant, perdeu o torcedor vascaíno que acreditou que era hora de mudança. Perdemos todos nós, apaixonados pelo futebol. O futebol pode e merece mais do que isso. Nós também. Joga de Terno


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