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Puros para sempre


"Forever Pure" conta uma história aviltante: um clube de futebol israelense, famoso por seus partidários radicais, assina com dois jogadores muçulmanos; e os torcedores boicotam o time. Eventualmente, aqueles associados com a assinatura avançam; e o jogador que mais se identifica com a causa dos fãs torna-se o novo capitão. Em última análise, o futebol é um negócio; sem outros incentivos, você não pode ganhar dinheiro perturbando seus clientes. O entendimento aqui é claro, é que, na sociedade israelense polarizada, a noção de pureza étnica pode ter um apelo que se estende muito além dos terraços. Como documentário, não há nada de extraordinário neste filme; seu poder vem na visão cruciante, mas clara da realidade que apresenta. A temporada 2012-13 foi um ano extraordinário para o time de futebol mais notório de Israel, que sempre representou a ala direita e se tornou um símbolo político para os mais desfavorecidos. Harush é apenas um personagem da história. O diretor Maya Zinshtein não poderia ter escolhido um ano melhor para entrar com sua câmera. Forever Pure refere-se a uma bandeira sustentada por La Familia, os ultras da equipe na posição leste. Eles significam livres de árabes, racialmente puros (Beitar é a única equipe em Israel a nunca ter assinado um jogador árabe). O documentário vai mostrando em uma linha tênue de acontecimentos o furor causado pela chegada de dois jogadores muçulmanos ao Beithar, revelando assim a dimensão da rivalidade histórica.

Os ultras não gostam do dono russo-israelense, Arcadi Gaydamak, que comprou o clube como uma ferramenta de propaganda. "Arcadi ... você é um traidor, um criminoso de guerra", eles cantam. "Todos sabem que você é corrupto e você entrará na prisão na França”. E é justamente uma atitude do dono que desencadeia o hedionismo. Ele assina com os dois jogadores muçulmanos, da Chechênia, "para mostrar a sociedade como realmente é", diz ele. De qualquer forma, La Familia não os recebe de forma agradável a notícia. "Foda-se, Kadiyev", eles cantam, para o seu próprio jogador. E: "Sadayev, vá para a mesquita Al-Aqsa, o que diabos, temos árabes em nossa equipe". E os dois jogadores, perdidos e perplexos com a reação da torcida, são jogados em um caldeirão de ódio que não entendem, e pra agravar a situação, há milhares de quilômetros de casa. Kadiyev, de 19 anos, cuja mãe está na arquibancada, tem uma briga com um torcedor e é ferido. Sadayev até marca em sua estreia, no entanto a torcida continuar a não aceitá-los em sua equipe e saem no meio da partida. E não voltam para a próxima partida, deixando assim o Beitar jogar para um estádio vazio. É um documentário êmulo e rispído que deixa você se sentindo reflexivo sobre a humanidade. "As coisas que você vê no leste são uma versão concentrada, ampliada do comportamento em nossa sociedade", diz Korenfine, o ex-presidente do clube em um dos trechos. Claro, o ódio profundamente enraizado não é encontrado apenas de um lado. O jogo final de Beitar, que não deve perder para se manter na liga, é contra o clube árabe israelense Bnei Sakhnin. "Fãs de Beitar, todos estão doentes, com gripe suína, eles devem morrer jovens", cantam apoiantes de Bnei Sakhnin, usando máscaras médicas. "Morte aos árabes, morte aos árabes", vem à resposta inevitável da La Familia que voltou aos estádios exclusivamente para esse jogo. O jogo acaba com 0-0, graças a uma atuação heroica do goleiro Harush, não que ele seja agradecido por isso. "Harush, você é um filho da puta", eles gritam. Sadayev e Kadiyev voltam a Chechênia assim que o apito final sopra. Todo mundo envolvido na transação, ou quem aceitou quando chegaram lá - Gaydamak, Korenfine, Harush, Eli Cohen, o gerente - já não está mais no clube. Um afirmativo para a multidão e sua regra. "Aqui estamos, a equipe mais racista do país", eles cantam com orgulho ao final da temporada. Vale a pena assistir? Para todos aqueles que buscam o futebol como uma explicação para o mundo, o documentário é mais que válido para assistir, a mistura entre poder, dinheiro, política e tensão mundial, mostra mais uma vez que não se trata apenas de um jogo. E pra quem gosta de rivalidade, Forever Pure faz com que os derbys brasileiros pareçam um grande amor amuado.

🎥 Forever Pure 👤🎥 Maya Zinshtein 🗓️ 2016 💻 Netflix Avaliação: 🎬🎬🎬🎬🎬🎬 (6,5)


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