O coração rossonero
O futebol italiano é marcado pela atenção à defesa, pelo apreço à tática, e, em alguns casos simbólicos, pela entrega em campo até a última gota de suor. O perfilado de hoje do JdT faz jus a todas essas características, e com sobras. Gennaro Ivan "Rino" Gattuso é a mais recente representação de sucesso dos carregadores de piano do futebol da Velha Bota. Com liderança, força, paixão, e um fôlego de dar inveja, o volante calabrês conquistou quase tudo o que podia com os ternos do Milan e da Seleção Italiana. Mas a carreira de Gennaro começou difícil, num clube modesto, distante dos maiores títulos e honrarias: o Perugia. Ali, o meio-campista ficou pouco tempo. Subiu para o profissional em 1995 e era presença constante na base azzurra, mas atuou apenas 10 vezes até julho de 1997 e foi de graça para o Rangers, gigante do futebol escocês, a pedido do então técnico Walter Smith. No ano seguinte, o treinador deixou a equipe, dando lugar ao holandês Dick Advocaat. Com o novo comandante, Gattuso não teve sorte, e, após jogar fora de posição na lateral direita, foi vendido para o pequeno Salernitana, da Itália, por 4,7 milhões de euros. De volta ao Calcio, o volante fez boa temporada, mas não deu para evitar a queda de seu clube para a série B. Apesar do rebaixamento, Gattuso fez o suficiente para dar o passo que mudaria definitivamente a sua carreira: a ida para o Milan. A equipe rossonera desembolsou 9 milhões de euros pelo futebol voluntarioso da então promessa, que logo mostrou a que veio. Já na temporada de estreia (1999-2000), o volante vingou, conquistando a titularidade com apenas 21 anos. Rino caiu nas graças da torcida em um derby contra a Inter, no qual demonstrou aplicação e competência ao fazer boa marcação sobre Ronaldo, considerado o melhor jogador do mundo à época. A partir daí, a trajetória de Gattuso deslanchou. O futebol raçudo, incansável e coletivo do volante permitiu que o técnico Carlo Ancelotti montasse uma dupla ideal para o meio campo milanista: Gennaro Gattuso e Andrea Pirlo. Juntos, os amigos conquistaram o mundo, tanto no clube quanto na seleção. Enquanto Gattuso guardava posição, preenchia espaços, desarmava os adversários e contagiava os companheiros com sua raça e dedicação, o magistral Pirlo tinha liberdade para controlar o jogo e armar as jogadas com a serenidade e precisão de seus passes criativos. Assim, a dupla se consolidou no futebol mundial e Gennaro fez sua fama como um dos melhores volantes defensivos do seu tempo. As recompensas chegaram na temporada 2002-03, quando superaram a rival Juventus nos pênaltis após 0 a 0 na final da UEFA Champions League. Faltou o Mundial, perdido para o Boca Juniors. Mas isso seria remediado no futuro... Em 2003-04, venceram a Série A, mas a temporada seguinte trouxe uma das maiores frustrações da história do Milan: a inexplicável derrota para o Liverpool na final da Champions. Após sair vencendo por 3 a 0 na primeira etapa, a equipe rossonera permitiu o empate no segundo tempo e deixou a "orelhuda" escapar nos pênaltis, no que ficaria conhecido como Milagre de Istambul. Para compensar, veio a taça da Copa do Mundo de 2006. Gattuso foi, junto de Pirlo, um dos destaques do time de Marcello Lippi: enquanto o regista foi um dos principais assistentes do torneio, Rino ganhou 31 divididas, completou 351 passes de 392 tentativas e deu assistência para o gol de Inzaghi contra a República Tcheca de Nedved. Também foi eleito o melhor em campo contra a Ucrânia de Shevchenko nas quartas-de-finais, e, de quebra, foi escolhido para a seleção do campeonato. O ano seguinte foi de vingança. Gennaro e cia bateram o Liverpool por 2 a 1 para reconquistar a Europa. Teve mais: na final do Mundial Interclubes, a equipe italiana bateu o Boca Juniors, algoz de 2003, por 4 a 2. A temporada de 2011-12 foi a última do Rino pelo Milan depois de mais 10 anos a serviço do clube, mas uma lesão no olho atrapalhou seu rendimento. Em 2012-13, ele jogou pelo suiço Sion, terminando como jogador-técnico. Ao fim da temporada, se aposentou, dando início ao trabalho como treinador, que segue até hoje. Promoveu o Pisa à Série B no ano passado e continua no comando do time. Por que jogava de terno? Apesar de não ser muito habilidoso, Gattuso era um leão em campo. Extremamente raçudo e apaixonado pelo Milan e pela Itália, o volante fazia o que fosse preciso pra dar a vitória às suas equipes. Às vezes até exagerava, como quando lesionou um ligamento do joelho no começo de uma vitória por 1 a 0 contra o Catania em 2008 mas permaneceu até o fim do jogo. Teve de ficar de molho por 5 meses. O fato era que vontade não faltava para o jogador. Era um líder, tinha grande estamina, ritmo alucinante na marcação, agressividade e ótimos desarmes e antecipações. Era forte, versátil, inteligente taticamente e tinha mentalidade vencedora e espírito de equipe. No seu auge, foi um dos melhores volantes defensivos do mundo e representava o coração daquele Milan vencedor da década passada. 👤 Gennaro Ivan Gattuso 👶 9 de janeiro de 1979 (39 anos) 🏠 Italiano 👕 Perugia, Rangers (SCO), Salernitana, Milan, Sion (SUI) e Seleção Italiana 🏆 (Principais): Copa da Itália 02/03; Liga dos Campeões 02/03 e 06/07; Campeonato Italiano 03/04 e 10/11; Mundial de Clubes 07 (Milan); Copa do Mundo 06 (Itália) 👑 Seleção da Copa do Mundo 06 (Itália) Classômetro: 👔👔👔👔👔👔👔 (7,3)