top of page

O artilheiro que não sorria: gol era só mais uma obrigação


quarentinha-botafogo

Nada de mãos para o alto, cambalhota ou mesmo o eterno soco no ar. Bola estufada na rede, vira as costas e segue normalmente rumo ao centro do campo. Talvez um cumprimento a algum companheiro. Quarentinha não via qualquer motivo para comemorar seus gols. Ele simplesmente era pago para aquilo e ponto final. Comemoravam, claro a torcida com seus inúmeros gols. Hoje, o JdT se curva novamente a idolatria para celebrar o aniversário de 83 anos de Quarentinha. Talvez o leitor franza a testa a se perguntar? Quarentinha? Talvez nem um botafoguense qualquer saiba que se trata do maior artilheiro de seu time até hoje (313 gols). Talvez o fã do futebol não saiba que se trata do dono de uma das maiores médias gol por jogo da história da seleção brasileira (0,9 por jogo: 17 gols em 18 jogos). O paraense Quarentinha nunca foi um grande amigo da torcida, de fato. Era frio e por não comemorar os gols que marcava, criava uma má relação com torcida e cartolas. Não é uma mera curiosidade essa. Essa peculiaridade chamou atenção de Flavio Costa, então técnico do Vasco, num amistoso contra o Paysandu. O time da Colina aplicou uma sarrafada de 7x3 no papão, mas o técnico ficou impressionado com o autor dos três gols do time do Pará: Quarentinha. Ajudou a impressionar a frieza em marcar e a frieza na hora que voltava pro campo de defesa para o reinicio da partida. Flavio queria aquele menino em seu time, mas o Vitória da Bahia foi mais rápido e o levou. Na terra de todos os santos, marcou sem parar e em 54, depois de um ano, finalmente desembarcou no Rio de Janeiro. Só que no Botafogo – o Vasco, primeiro time a mostrar interesse no jogador nunca o viu vestindo seu terno. No Glorioso, irritou torcida e dirigentes por nunca comemorar os gols. Parecia antipatia. Foi emprestado, mesmo marcando à beça, para o Bonsucesso. Continuou marcando e foi vice artilheiro do carioca de 56. Voltou ao alvinegro e tanto torcida quanto dirigentes se contentaram em não vê-lo fazer festa com os gols. Menos mal. Quarentinha, hoje, é um dos grandes ídolos do time de General Severiano, mesmo sem o status de Nilton Santos e Garrincha, com os quais marcou aquele esquadrão da década de 60. Um semblante sério (muitos diziam até triste) em meio a alegria que Garrincha sempre tivera. Por problemas no menisco, foi cortado na lista final da Copa de 62. Ainda que não mostrasse nenhuma alegria naquilo que mais sabia, ficou bastante emocionado quando se despediu do futebol, por volta de 68. Em 1996, um médico assumiu ser botafoguense quando fora atender um paciente de nome Waldir. Um senhor, bem sereno que dizia ser ex-jogador do Botafogo, por isso a declaração – sincera – do médico. O assunto rendeu e o médico soltou que um de seus maiores ídolos era Quarentinha. Seu Waldir deve ter rido de canto de boca. Mais tarde, o médico descobriria ser seu Waldir, o Quarentinha, falecido alguns dias depois. Por que jogava de terno: Armando Nogueira, um dos maiores cronistas de futebol do Brasil assim definiu: “(...)Era um chutador temível, um atacante de respeito, que fazia tremer os goleiros, fossem quem fossem. Tinha na canhota o que, então, se chamava um canhão. Chutava muito forte, principalmente, bola parada. Era de meter medo. Nos jogos Botafogo-Santos, era ele, de um lado, o Pepe, do outro. Ai de quem ficasse na barreira. Quarentinha nasceu no Pará, filho de um atacante que lhe herdou, intactos, o chute poderoso e o apelido. Não sei se o pai era tão tímido quanto o filho. Quarentinha jamais celebrou um gol, fosse dele ou de quem fosse. Disparava um morteiro, via a rede estufar, dava as costas e tornava ao centro do campo, desanimado como se tivesse perdido o gol." 👤 Waldir Cardoso Lebrêgo 👶 15 de setembro de 1933 🏠 Brasileiro 👕 Paysandu, Vitória, Botafogo, Bonsucesso, Union Magdalena (COL), Desportivo Cali (COL), Junior Barranquilla (COL), América de Cali (COL), Almirante Barroso e seleção Brasileira. 🏆Campeonato Carioca: 57, 61 e 62, Torneio Rio São Paulo 62 e 64 (Botafogo) 👑 Maior artilheiro da história do Botafogo, artilheiro dos campeonatos carioca de 58, 59 e 60. Classômetro: 👔 👔 👔 👔 👔 👔 👔 (7)

bottom of page