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Marinho Chagas: O boêmio diabo louro


O ano era 1967, época em que ter cabelo grande, abusar de colares e pulseiras, trocar o terno pela bermuda floral e estacionar o carango no calçadão de Copacabana ao som do Bob Marley para realçar o bronzeado era sinônimo máximo de status e total pinta de playboy. E assim foi Francisco das Chagas Marinho, a “Bruxa” Marinho Chagas, lateral esquerdo destro mais potente – e incoerente – de todos os tempos. Sua função em campo era marcar, mas ele não queria nem saber, pois sabia mesmo era “marcar” gols. Por vezes foi até apelidado de “Avenida Marinho Chagas” devido aos buracos que deixava na defesa enquanto corria feito louco pela ponta no melhor estilo artilheiro e com destino pra lá de (in)certo, já que nem sempre a bola terminava nas redes, embora ele tenha anotado incríveis 39 gols um uma única temporada pelo Fluminense, algo raríssimo para a posição. Nascido no Rio Grande do Norte, Marinho começou a carreira no pequeno Riachuelo, despontando em seguida pelos tradicionais ABC e Náutico. Trocou as dunas de Natal pela brisa leve do Rio de Janeiro, soprando o que seria o ponto-auge da profissão boleira: o destaque pelo Botafogo na temporada mais longa de sua carreira, entre 72 e 76, que lhe garantiria um terno cativo na Seleção Arte de 74. Inclusive foi dele o erro que tirou do Brasil o terceiro lugar contra a Polônia, em mais uma de suas inúmeras irresponsabilidades táticas. Ainda assim, ele foi o único jogador daquele elenco canarinho a figurar dentre os relacionados à Seleção da Copa, como melhor lateral esquerdo do Mundial. Do Botafogo, Marinho acertou com o rival Fluminense para fazer parte da Máquina Tricolor de 77. Não ganhou muita coisa, mas também não passaria em branco: tratou logo de inventar uma nova cobrança de pênalti. Exímio cobrador, o “jogador show” patenteou a paradinha giratória, onde dava um giro 360 antes de bater na bola, estufando as redes no mais puro gingado e levando à loucura o presidente Francisco Horta que, a essas alturas, já se arrependera de ter feito de tudo para trazer Marinho ao Flu. Antes de seguir viagem para o New York Cosmos, de Pelé e companhia nos Estados Unidos, o diabo louro ainda acompanhou o tricolor das Laranjeiras numa festa no Castelo de Mônaco e tentou se engraçar com ninguém menos que a princesa Grace Kelly: “Cheguei nela dançando, com uma taça de champanhe na mão. Encostei, esperando que ela pulasse fora, mas ela riu. Aí eu tremi na base. Era demais pra mim. Não tinha cacife pra fazer sexo com uma princesa, jamais”. De volta ao Brasil entre 81 e 86, Marinho desfilaria sua classe e malemolência também na ala esquerda do tricolor paulista, Bangu, Fortaleza e América de Natal, retornando às origens potiguares mesmo que só por um ano, já que em 87 partiria novamente para os EUA e depois para a Alemanha, em passagens menos honrosas. Após dependurar o terno pela equipe alemã BC Harlekin Augsburg, tentou seguir carreira de treinador no natalense Alecrim Futebol Clube e depois como comentarista esportivo da Band Natal mas, infelizmente, já havia sido driblado pelo alcoolismo. Marinho Chagas morreu vítima de uma hemorragia hepática em 1º de junho de 2014, um dia depois de participar do Globo Esporte paraibano e doze dias antes de a seleção brasileira estrear no Mundial em casa. Ele havia prometido parar de beber para estar vivo e poder ver a Seleção jogar a Copa no Brasil. No entanto, ficou devendo. Foi velado com a camisa amarelinha no Estádio Frasqueirão, do ABC Futebol Clube, seu time de juventude e coração. Por que jogava de terno? Por sua incoerência, irreverência e exuberância. Destacou-se não só pelo chute forte e preciso, mas por ser um dos últimos românticos do futebol-arte brasileiro, ainda mais considerando sua posição em campo. De ídolo do Botafogo e melhor ala-esquerda do mundo a amigo de Bob Marley e paquerador da Grace Kelly, só não conseguiu vencer um único adversário em toda a sua trajetória de classe e boemia: o álcool. 👤 Francisco das Chagas Marinho 👶 8 de dezembro de 1952, faleceu em 1º de junho de 2014 (62 anos) 🏠 Brasileiro 👕 Riachuelo AC, ABC, Náutico, Botafogo, Fluminense, New York Cosmos, Fort Lauderdale Strikers, São Paulo, Bangu, Fortaleza, América de Natal, Los Angeles Heat, BC Harlekin Augsburg, Seleção Brasileira 🏆 (principais) Campeonato Potiguar 70 (ABC); Torneio Bicentenário dos Estados Unidos 76 (Seleção Brasileira); Troféu Teresa Herrera 77 (Fluminense); Campeonato Paulista 81 (São Paulo) 👑 Melhor lateral-esquerdo da Copa de 74; 2º Maior Jogador Sul-Americano do Ano 74 (El País); Bola de Prata (Placar) 72, 73 e 81 Classômetro: 👔👔👔👔👔👔👔 (6,66)

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