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O senhor futebol


O esporte mais popular do planeta comete suas injustiças, mesmo que involuntariamente. Muitos jogadores, embora sejam ícones para os apaixonados por futebol, mereciam o triplo do reconhecimento que possuem. Certamente, um deles é Didi (Valdir Pereira), apelidado de “Mr. Football” durante a Copa do Mundo de 1958. Valdir iniciou sua carreira profissional em 1946, no Americano Futebol Clube, de Campos dos Goytacazes (RJ), com 16 anos. Mas nada foi fácil. Em 1944, Didi sofreu uma infecção na perna esquerda e quase teve que amputá-la, mas os deuses do futebol não permitiriam esse desperdício de talento. Depois do Americano, Didi teve passagens rápidas por Lençoense e Madureira, antes de chegar ao Fluminense, em 1949, quando começou a demonstrar sua elegância em campo, que o rendeu o apelido de “Príncipe Etíope”, criado por Nelson Rodrigues, ilustre torcedor do tricolor carioca. No Fluminense, Didi logo assumiu um papel de destaque e fez parte do lendário time que contava com Castillo, Pinheiro, Telê Santana e Carlyle. Sua carreira começava a deslanchar. Em 1950, deixou de ser uma promessa para fazer história: Didi marcou o primeiro gol da história do Maracanã, jogando pela seleção carioca. O mundo começava a conhecê-lo, tanto é que, em 1952, o jogador foi um dos destaques do time tricolor no importante título da Copa Rio, uma espécie de Mundial organizado pela antiga CBD e pelo próprio clube das Laranjeiras, que completava 50 anos de existência. No mesmo ano, foi convocado pela primeira vez para a seleção brasileira, onde rapidamente se firmou, jogando a Copa do Mundo de 1954, quando o Brasil foi eliminado nas quartas de final pela poderosa Hungria liderada por Puskas. Seguiu no Fluminense até 1956, não conseguindo mais títulos, mas entrando para a história com 91 gols em 298 jogos e com a criação da eternizada cobrança de falta no estilo “folha seca”, técnica que consistia em bater na bola com o lado externo do pé, fazendo-a girar sobre si mesma e modificar sua trajetória. Depois, apenas via-se a bola caindo lentamente no fundo do gol. Em 1956, Didi foi jogar no Botafogo de Garrincha, Nilton Santos e Quarentinha. Tornou-se ídolo dos alvinegros rapidamente e continuava a mostrar sua classe, técnica e maestria com lançamentos precisos para Garrincha, que quase sempre terminavam em gols. A dupla se eternizaria na história do clube de General Severiano. Em 1958, veio o ápice. Com 29 anos, Didi jogou sua segunda Copa do Mundo na Suécia e se eternizaria na história do futebol mundial. Titular absoluto do esquadrão brasileiro que contava com Djalma Santos, Zagallo, Pelé, Garrincha, Nilton Santos, Zito, Dida e Vavá, Didi encantou o mundo com sua elegância e maestria. Revolucionou o que conhecemos por ‘meio-campo’ e se tornou o cérebro do time, dando início ao que chamamos hoje de ‘jogo bonito’. O Brasil, após uma campanha memorável, conseguiu seu primeiro título mundial e Didi foi eleito o melhor jogador da competição (mesmo ao lado de Pelé, Garrincha e tantos outros craques), quando ganhou seu eterno apelido de “Mr. Football”. Em 1959, foi para o Real Madrid jogar ao lado de Puskas e Di Stefano (que terá um texto aqui na página muito em breve). Porém, o brasileiro não conseguiu apresentar o futebol que o consagrou. Várias histórias dão conta que Didi teria sofrido um boicote de Di Stefano, o líder da equipe. Em 1987, Didi disse em entrevista à Revista Placar que não foi bem no Real Madrid porque os europeus gostavam de jogadores que davam carrinhos e ele só saía de campo com o terno limpo. “Pra quê isso tudo, se eu chegava na frente e deixava os atacantes na cara do gol? Eles ficavam danados”, disse o craque. Em 1960, Didi voltou ao Botafogo, que se tornou o clube que o ‘Príncipe Etíope’ mais vestiu a camisa: 313 jogos, 114 gols, 3 títulos cariocas e 1 Rio-SP. Tornou-se uma lenda. Em 1962, mais estava por vir. O Brasil defendia o título da Copa do Mundo com mais uma legião de craques. Pelé, o maior deles, lesionou-se ainda na primeira partida e abriu a brecha para Didi e Garrincha desfilarem seu futebol entrosado do Botafogo e ganharem ainda mais destaque. A seleção brasileira conquistaria seu segundo título mundial, num torneio que ficou conhecido como “A Copa de Garrincha”. Depois do bicampeonato mundial, Didi, já com 33 anos, passou a trocar de clube constantemente, passando por Sporting Cristal (PER), Veracruz (MEX) e São Paulo, onde encerrou sua carreira em 1966. Mas Valdir não pararia por aí. Tornou-se técnico e fez a seleção peruana voltar a disputar uma Copa do Mundo em 1970, após 40 anos. Mas o Brasil estaria no meio do caminho do ‘folha seca’ e o Peru seria eliminado pela seleção canarinho nas quartas de final por 4x2. Didi também foi um dos técnicos do Fluminense na época em que o clube ficou conhecido como “A Máquina Tricolor”, em 1975 e 1976. Passou por inúmeros clubes, fez história em alguns, mas não conseguiu muitos títulos, mantendo sua carreira de treinador até 1990. No dia 12 de Maio de 2001, Didi faleceu no Rio de Janeiro após várias complicações provocadas por câncer. E, ainda assim, fica algo interessante: Valdir Pereira faleceu no Hospital Universitário Pedro Ernesto, que fica a poucos metros do Maracanã. Por que jogava de terno? Didi é uma das maiores referências futebolísticas para os termos classe, elegância e maestria. Foi bicampeão mundial com a seleção brasileira, criou um estilo único de bater falta e era dono dos meio-campos por onde passou. Para muitos, só fica atrás de Pelé e Garrincha quando falamos de craques brasileiros. Didi, afinal, é o “Senhor Futebol”. 🚹 Valdir Pereira 👶 08 de Outubro de 1928, faleceu em 12 de Maio de 2001 (72 anos) 🏠 Brasileiro 👕 Americano, Lençoense, Madureira, Fluminense, Botafogo, Real Madrid, Sporting Cristal, São Paulo, Veracruz 🏆 Copa Rio 52 (Fluminense); Taça dos Campeões Europeus (atual Liga dos Campeões da UEFA) 59/60, Troféu Ramón de Carranza 59 (Real Madrid); Copa do Mundo 58, Copa do Mundo 62 (Seleção Brasileira). 👑 Bola de Ouro da Copa do Mundo FIFA 58; All-Star Team - Craque do time das estrelas da Copa do Mundo FIFA 58; All-Star Team - Craque do time das estrelas da Copa do Mundo FIFA 62; 7º Maior jogador Brasileiro do século XX pela IFFHS 99; 19º Maior jogador do Mundo no século XX pela IFFHS 99; 100 Craques do Século - World Soccer 99; 25º Maior Jogador do século XX pelo Grande Júri FIFA 2000 Classômetro: 👔👔👔👔👔👔👔👔👔 (9)

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